'Foi descartando todos que gostavam do meu filho', diz sogra de suspeita de matar 3 pessoas com bolo envenenado

  • 23/02/2025
(Foto: Reprodução)
Após mais de dois meses do crime, Zeli dos Anjos quebrou o silêncio em entrevista inédita ao RBS.DOC - O Caso do Bolo Envenenado; personagem fundamental da história detalhou relacionamento com suspeita do crime e sequelas causadas pelo arsênio. Zeli dos Anjos fala pela primeira vez sobre envenenamento em Torres (RS) TV Globo/Reprodução Com dificuldade para caminhar e mexer a ponta dos dedos das mãos, consequência do envenenamento por arsênio, Zeli dos Anjos, de 61 anos, recebeu a equipe de reportagem para a primeira entrevista sobre o caso do bolo de Natal em Torres, no Rio Grande do Sul, que chocou o país. 📲 Acesse o canal do g1 RS no WhatsApp Desde o dia 23 de dezembro, quando o tradicional encontro para comer o bolo de Reis da família dos Anjos se tornou uma tragédia, Zeli vinha evitando o contato com jornalistas. Mas concordou em falar ao RBS.DOC - O Caso do Bolo Envenenado durante uma visita à cunhada e uma das suas melhores amigas, Regina dos Anjos, em Canoas, no início de fevereiro. A sogra de Deise concordou em dar entrevista para esclarecer o dramático episódio das mortes das pessoas mais importantes da vida: as irmãs Neuza Denize Silva dos Anjos e Maida Berenice Flores da Silva e a sobrinha Tatiana Denize Silva dos Anjos, filha de Neuza. Entre as revelações, Zeli contou sobre um ponto que, para a investigação, faz parte da motivação do crime: uma suposta tentativa de Deise de afastar todas as pessoas que eram próximas do marido. "Desde o início, ela quis descartar as mais chegadas. A primeira coisa que ela fez foi com a Tati (uma das mortas por envenenamento), prima mais chegada ao Diego. Depois, a Regina, que era a tia mais chegada. Ela já começou a descartar", diz. "E foi indo por eliminatória. E ela foi descartando assim, sabe, aos pouquinhos, os amigos também. O melhor amigo dele quando ele tinha desde três anos, que é compadre dele, trocados, eles são padrinhos da filha e eles são padrinhos do filho dele, enquanto ela não conseguiu separar eles, ela não sossegou, fazendo fofoquinha, fazendo intriguinha e briguinha", completa. Sogro de suspeita também foi morto por ingerir arsênio 4 meses atrás, aponta perícia Depois, no entendimento de Zeli, Deise mudou a estratégia: além de "descartar" das relações, decidiu eliminar a vida de quem se aproximasse do marido. De acordo com Cassyus Pontes, advogado que representou Deise durante o processo, em depoimento ao documentário, a suspeita "estava sendo investigada por um fato, ainda sem relatório final, já com uma condenação por parte de uma instituição do Estado" e afirmava "que jamais colocou na farinha, que jamais usou no suco" o veneno encontrado pela perícia. "São questionamentos que vão ficar eternamente. E nenhuma investigação, nenhuma decisão, nesse momento, vão mudar essa realidade", afirma o advogado. Assista ao primeiro bloco do documentário sobre o Caso do Bolo Envenenado Arraste para o lado e veja a cronologia completa: Confira trechos da entrevista que foi ao ar no programa especial da RBS TV sobre um dos casos policiais de maior repercussão do Estado. Sequelas do arsênio Zeli afirma que tem reflexos em seu estado de saúde pela ingestão, duas vezes, do metal pesado arsênio. Segundo a polícia, em setembro, ela consumiu leite em pó contaminado com o veneno — ocasião que resultou na morte do marido, Paulo dos Anjos. E, depois, novamente em dezembro. "Do joelho pra baixo, está muito dormente, eu não tenho sensibilidade nenhuma. Não posso ficar em pé sozinha e nem caminhar sozinha. Nas pontas dos dedos, também. Tipo, pegar uns comprimidos, não consigo direito. Mas é só", declarou. Ela acredita que as sequelas são apenas por ter ingerido o bolo e não da situação anterior. "Em setembro, depois que eu vomitei bastante, fiz um soro. Eu fiquei bem, não sei se foi por me ocupar do Paulo, que aí não fez mais nada, nem me lembro de mim. Mas eu fiquei bem. Não tive mais nada". Pedaço pequeno de bolo causou estrago Outro ponto do relato de Zeli dá uma noção do que a quantidade de veneno adicionada na farinha do bolo é capaz de fazer no corpo humano. Todos comeram apenas uma colherada do doce: "A gente comeu um pedacinho do bolo só… E daqui a pouco a gente já começou a passar mal. Foi bem rápido assim, sabe? Tipo, 'ah, o bolo está ruim, ah, então não come'. E aí o outro prova, porque o outro disse que está ruim. E aí que todo mundo acabou botando na boca". "Era muito pouco, era muito pouco. Ninguém comeu uma fatia. Porque eram as fatias fininhas, eu tinha cortado todas as fatias fininhas. Aí todo mundo foi pegar um pedacinho para ver o gosto que estava". Demora para tomar antídoto Zeli diz que iniciou o tratamento com o antídoto para o arsênio no dia 15 de janeiro, mais de 20 dias após ingerir o medicamento. A explicação que recebeu é de que não havia a solução pronta no Rio Grande do Sul e precisou ser preparado através de um laboratório de manipulação específico em outro estado. "Demorou bastante. Aí eu tomei 10 dias, né? 40 comprimidos. Aí como agora ainda deu muito alta a urina e já baixou no sangue, mas precisa de igual, vou tomar de novo", detalhou. A Secretaria Estadual da Saúde disse que "logo que foi identificado o agente causador da intoxicação foi orientado imediatamente o uso do antídoto e solicitado o medicamento, porém devido dificuldade de conseguir o insumo utilizado e à logística para envio do medicamento, o uso do antídoto demorou alguns dias para ser realizado, mas foi o mais breve possível". Nora sempre foi "uma pessoa má" Zeli afirma que considerava inconcebível que Deise pudesse assassinar membros da família, apesar de considerar a suspeita "uma pessoa má". "Eu sabia que ela era má, que ela fazia maldades, que dizia coisas das pessoas quando estava com raiva. Ela ficava com raiva por muito pouca coisa. Mas nunca (achei) que fosse chegar a um nível desses. Nunca! Nunca!". Zeli chegou a ser alertada por outras pessoas sobre o comportamento estranho de Deise após a morte de Paulo. Familiares orientaram ela a fazer testes no cadáver, enquanto Deise, sem explicação aparente, dava sugestões de que os restos mortais fossem cremados. Mas Zeli afirma que "não quis acreditar no que várias pessoas falavam". E diz que apesar de saber do comportamento da nora, não entende o motivo de acontecer tudo isso. "Inveja do quê? Ciúme do quê? Ela é nova, bonita, trabalhava, tinha tudo de bom, não precisava de nada. Eu não tinha nada melhor que ela". Zeli e o marido, Paulo Luiz dos Anjos Reprodução/TV Globo Paulo disse para Deise que ela seria a filha que o casal não teve Zeli dos Anjos recordou um momento chave na relação do casal com a nora. Foi no casamento de Deise e Diego. Segundo ela, o sogro deixou claro que estava aberto a recebê-la com todo o amor na família e tratá-la como uma pessoa do próprio sangue, uma dos Anjos: "O Paulo disse pra Deise que ela ia ser a filha que nós não tivemos (...) E ela podia ter sido tão amada, tão querida também quanto, só que desde o início ela quis já começar a descartar as mais chegadas". O convite carinhoso logo se percebeu impossível de ser cumprido. Isso porque, de acordo com Zeli, a nora arranjava briga com todos que se aproximavam. Os motivos eram variados, mas sempre envolviam alguma pequena confusão, que escalonava para textões em aplicativos de mensagens e, depois, se tornavam uma grande tempestade. É nesse ponto da conversa que Zeli recorda do que chama de tentativa de descartar as pessoas próximas de Diego por parte da esposa dele. Nem o melhor amigo e compadre foi poupado. "Ela disse: ele só está feliz quando ele está com o André, ah, ele só está feliz quando ele está com a mãe dele, ah, ele conversou mais com a mãe dele em uma tarde do que conversou comigo em 20 anos". Zeli Terezinha Silva dos Anjos. Reprodução/RBS TV Visitas de Deise à UTI Zeli lembra das várias visitas que a suspeita do crime fez à ela durante o tempo em que esteve internada no hospital. Foram muitas. "Ela foi na UTI mais de uma vez. Ela foi me visitar normal. Normal, normal. Dizia 'tu já vai ficar bem, não foi nada'. E ficava de mão comigo". Deise chegou a ficar sozinha com a sogra. Vítima e suspeita de envenenamento, lado a lado, sem supervisão. "(Deise dizia) Te amo, te adoro. Ela queria porque queria ficar comigo", se assusta. Zeli ainda recorda do episódio em que Deise levou pastel, doces e suco para ela no hospital. Naquele dia, já havia a informação sobre o envenenamento por arsênio, e todos os produtos foram descartados. Ela não acredita que havia veneno nos alimentos, porque foram trazidos por Deise e Diego após irem comer um lanche em uma padaria. Em 12 de fevereiro, a perícia confirmou que os produtos não estavam contaminados. As incertezas em relação ao futuro Durante a entrevista, Zeli só chorou uma vez. Foi quando falava sobre a necessidade de seguir firme após perder as "quatro pessoas mais próximas". "Um dia atrás do outro, pensando que meu neto precisa também, meu filho também e a minha família também. Minha família que sobrou a família do Paulo, né?" Ela enche os olhos d'água, é tomada pela emoção e finaliza o raciocínio. "Porque eu, eu acho que eu também. Eu acho que eu também, sabe? Mas para ficar... Eu só vou ficar tranquila o dia que me disserem que as detentas mataram ela. Eu sinto muito dizer isso, pelo meu neto. Eu sinto muito, mas é a única coisa que eu posso te dizer. Eu não tenho nem pena, nem raiva, nem ódio, nem sei dizer que tipo de sentimento. Mas quando eu penso que ela tirou as quatro pessoas mais importantes da minha vida, praticamente de uma vez só, não tem como não pensar dessa forma". Depois da revelação de tudo que ocorreu, o desejo da família era que Deise deixasse de ser chama de "dos Anjos" e fosse retratada pela imprensa apenas como Moura. Quem destruiu parte da família não mereceria carregar o nome. Mas isso só caberia a Deise decidir, já que não há previsão legal de remoção forçada de nome. Segundo Zeli, o filho já decidiu se separar e conversou com advogado para dar início ao processo. Zeli, que começou a entrevista com um sorriso, terminou comovida por tudo que lembrou. Pediu ajuda para levantar e mostrar a dificuldade dos movimentos. Ao final, deu um abraço e se despediu. Foi quando o filho dela chegou para buscá-la e levar de volta para a casa de Arroio do Sal, onde tenta organizar os pensamentos depois de tudo que viveu. VÍDEOS: Tudo sobre o RS

FONTE: https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2025/02/23/foi-descartando-todos-que-gostavam-do-meu-filho-diz-sogra-de-suspeita-de-matar-3-pessoas-com-bolo-envenenado.ghtml


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