Polícia identifica quarto suspeito de envolvimento na morte de advogado no Centro do Rio
23/02/2025
(Foto: Reprodução) Delegacia de Homicídios da Capital segue investigando os envolvidos na execução e as motivações do crime. Investigação aponta envolvimento de quadrilha ligada ao bicheiro Adilsinho. Advogado Rodrigo Marinho Crespo, de 42 anos, morto a tiros no Rio.
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Quase um ano depois da morte do advogado Rodrigo Marinho Crespo, assassinado a tiros no Centro do Rio, a polícia acredita que, além dos três homens já presos pelo crime, um quarto suspeito ajudou a monitorar a vítima.
Ryan Patrick Barboza de Oliveira, segundo as investigações da Delegacia de Homicídios da Capital, ajudou a monitorar os passos de Rodrigo, inclusive no dia 26 de fevereiro de 2024, quando o homicídio aconteceu.
A partir da análise do telefone do suspeito, a polícia descobriu que Ryan acompanhou Rodrigo e ficou no Centro da cidade até as 11h da manhã do dia do crime, sendo substituído posteriormente por Cezar Daniel Mondego de Souza e Eduardo Sobreira de Moraes.
A dupla, que foi presa meses depois, ficou na região até pouco antes das 17h15, quando o advogado foi morto.
Ryan Patrick Barboza de Oliveira foi preso na Baixada Fluminense
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Ryan foi preso por participar de outro crime que foi cometido pelo mesmo grupo, de acordo com a polícia: o assassinato do dono do bar Parada Obrigatória, Antônio Gaspaziane Mesquita Chaves.
As informações da DH da Capital indicam que os criminosos já estavam atrás de Rodrigo desde o dia 5 de outubro de 2023: anotações com as placas dos veículos de Crespo foram encontradas nos celulares de um dos investigados, no dia em que ele foi a uma festa em Ipanema.
Outros dados de Crespo foram buscados em um site de dados no dia 26 do mesmo mês, segundo as investigações.
Entenda a participação de cada um no crime, segundo as investigações:
O policial militar Leandro Machado da Silva é um dos suspeitos de matar o advogado Rodrigo Marinho Crespo
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Leandro Machado da Silva: policial militar que, segundo as investigações, providenciou os carros usados no crime.
Cezar Daniel Mondego de Souza: apontado como responsável por monitorar a vítima. Tinha cargo comissionado com salário de até R$ 6 mil na Assembleia Legislativa do RJ (Alerj).
Eduardo Sobreira Moraes: É apontado pela polícia como o responsável por seguir os passos de Rodrigo, dirigindo o carro para Cezar enquanto acompanhavam a movimentação da vítima antes do assassinato.
Ryan Patrick Moraes Barbosa: Conhecido como "Motinha ou Visão", ele monitorou Rodrigo Crespo entre os dias 22 e 26 de fevereiro, quando o crime aconteceu.
Foto de Eduardo Sobreira e Cezar Daniel Mondego juntos aparece em relatório de investigação da Polícia Civil
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Os três primeiros viraram réus no processo em abril, quando a denúncia do Ministério Público foi aceita. Na decisão, Leandro, que é PM, foi afastado do cargo. De acordo com as investigações, eles se encontraram antes e depois do crime. Os três serão levados a júri popular.
No dia 9 de abril, policiais cumpriram mandados de busca e apreensão contra Adilson Oliveira Coutinho Filho, conhecido como Adilsinho, atual patrono do Salgueiro; e outras oito pessoas investigadas no inquérito da morte de Rodrigo Marinho Crespo.
Adilsinho atualmente está foragido após ser indiciado como mandante da morte Marco Antonio Figueiredo Martins, o Marquinho Catiri, e seu comparsa Sandrinho.
A DH encontrou diversos indícios de ligações e mensagens entre os autores deste crime e os investigados pela morte de Rodrigo Marinho Crespo
Procurada, a defesa de Adilsinho afirmou, na época da operação, que o empresário Adilson Coutinho Filho é "inocente e nega qualquer envolvimento com os fatos investigados."
Uma das linhas de investigação da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) é sobre ligações da vítima com o setor de apostas on-line.
A Polícia Civil e o Ministério Público suspeitam que a morte de Crespo pode ter sido um "recado" de bicheiros contra o mercado legal de apostas online no Rio de Janeiro. Antes de morrer, Rodrigo tinha começado a se interessar pelo mercado de bets.
"Rodrigo Crespo (vítima) não negava que pretendia ganhar dinheiro, e muito, com a legalização/regulamentação da exploração de jogos de aposta online, e buscava por financiadores para a sua ambiciosa empreitada", detalhou o MP na denúncia feita em abril de 2024.
"O crime, não por acaso, foi cometido em plena luz do dia, próximo à OAB, em que pese a vítima ter sido monitorada dias seguidos, e podia ter sido executada na calada da noite, em local mais ermo. Há fortes indícios de que a malta, com a execução, tenha pretendido dar 'um recado'", diz um trecho do documento.
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Uma das conversas interceptadas na investigação da Delegacia de Homicídios da Capital revelou que investigados conversaram sobre semelhanças entre a morte de Crespo e um crime ocorrido no Maranhão em 2021: o assassinato de Bruno Vinícius Nazon, em São Luís.
Dois homens foram identificados como autores do crime: Alfredo dos Santos Júnior, o Velho ou Diazepam, e José Gomes da Rocha Neto, conhecido como Kiko.
As investigações da polícia maranhense apontaram que ambos atuam em um grupo de extermínio a mando de bicheiros do Rio de Janeiro.
Nas conversas interceptadas, um dos investigados, Deco, comenta com outro comparsa que o crime foi cometido com modus operandi semelhante ao do crime ocorrido no nordeste brasileiro:
"Foi igual eles fizeram lá no Maranhão. Idêntico", diz Deco.
Alfredo dos Santos Júnior, o Velho, foi preso em Cabo Frio
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Alfredo, ex-policial militar expulso pela corporação, foi preso em junho de 2023, dias após a morte de Diego Campos Veríssimo, secretário municipal de Posturas de Arraial do Cabo, na Região dos Lagos.
O processo se encontra suspenso na Justiça do Maranhão. As investigações da Polícia Civil apontam que Velho e Kiko pertencem à mesma organização criminosa comandada por Adilsinho.
'Assinatura' de assassinos de aluguel
Julgamento dos réus acusados de matar o advogado Rodrigo Marinho Crespo
Henrique Coelho / g1
Em uma das audiências do caso na Justiça do Rio, o titular da Delegacia de Homicídios da Capital, Rômulo Assis, afirmou que o crime tem a "assinatura" de grupos de matadores de aluguel:
“É um homicídio praticado com uma certa assinatura, atiradores bem capacitados, pessoas que utilizam uniforme militar. Esse tipo de crime vem sendo constante de determinados grupos de matadores de aluguel. Isso aponta uma direção”
Em outra audiência do caso, o policial militar Leandro da Silva Machado, negou ter participado de um plano para seguir os passos do advogado.
"Apesar da justiça ter pronunciado meu cliente, nós da defesa recorremos e iremos sustentar sua inocência", afirmou o advogado de Machado, Diogo Macruz.
Os outros dois réus, Cezar Daniel Mondego e Eduardo Sobreira Moraes, permaneceram em silêncio.
"Inconformada com a pronúncia de Eduardo a júri, a defesa interpôs recurso contra essa decisão", afirmou o advogado Felippe C. Teixeira, que representa Sobreira.
Machado respondeu somente às perguntas das defesas dele e dos outros réus. Ele alegou ter apenas sublocado os carros para Cezar Daniel Mondêgo e Eduardo Sobreira.
Na audiência, Machado afirmou que não conhece João Bosco de Oliveira, apontado pela Delegacia de Homicídios da Capital como o homem que teve seu nome utilizado como "laranja" para aluguel dos carros na locadora Horizonte 16. Segundo a Polícia Civil, lá foram alugados os veículos utilizados para o monitoramento da vítima antes da execução.