Prestes a se despedir da Sapucaí, Neguinho da Beija-Flor vai continuar no Carnaval de Santos, SP
22/02/2025
(Foto: Reprodução) Artista é considerado Embaixador do Carnaval de Santos (SP) desde 2018. Apesar de deixar o posto de intérprete da escola de samba do Rio de Janeiro, ele afirmou que continuará acompanhando os desfiles na cidade da Baixada Santista. Neguinho da Beija-Flor é Embaixador do Carnaval de Santos desde 2018
Daniel Rodrigues/A Tribuna Jornal
Neguinho da Beija-Flor, que anunciou a aposentadoria como intérprete da escola de samba do Rio de Janeiro, prestigiou o carnaval santista, no litoral de São Paulo, neste fim de semana. Apesar de deixar o posto na agremiação carioca, ele pontuou que continuará acompanhando os desfiles na cidade da Baixada Santista, onde é Embaixador do Carnaval desde 2018.
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“Sou maravilhado com esse Carnaval de Santos. Um Carnaval onde o povo é receptivo e que gosta de samba. E eu estou dentro, estou junto", disse o artista. "Carnaval de Santos em 2026, estarei aqui de novo".
Aos 75 anos, Neguinho anunciou sua despedida como intérprete da Beija-Flor. A sua última apresentação na Sapucaí, que acontece na próxima semana, será com o enredo sobre Laíla, com quem trabalhou no Cordão da Bola Preta.
Neguinho da Beija-Flor durante desfile do Carnaval em Santos
Alexsander Ferraz/A Tribuna Jornal
O artista disse, porém, que pretende dar sequência na carreira de cantor com gravações fora do Carnaval. Ainda este ano, ele lançará um álbum com um novo parceiro: Xande de Pilares. “A minha carreira vai continuar”, disse Neguinho.
Gravações
Os dois receberam o g1 no estúdio onde finalizam o álbum "Empretecendo – Neguinho da Beija-Flor e Xande de Pilares", em Copacabana, na Zona Sul do Rio.
O repertório é de sucessos da carreira de Xande e que têm valor afetivo para os dois. As gravações foram marcadas por momentos de emoção.
“A gente improvisa na música, a gente chora juntos”, disse Xande, deixando escapar mais algumas lágrimas.
Neguinho da Beija-flor e Xande de Pilares em gravação de álbum em estúdio em Copacabana, na Zona Sul do Rio
Gustavo Wanderley/ g1
“Eu sou um cara muito conservador nesse sentido de cuidar dos nossos professores. O Neguinho é um deles. Acho que, de todos, é o primeiro. O primeiro samba-enredo que eu ouvi e tive a certeza de que eu estava curtindo foi ‘Sonhar com Rei dá Leão’. Eu tinha 6 anos de idade”, disse Xande, citando o samba campeão do carnaval de 1976, na estreia de Joãosinho Trinta na Beija-Flor com enredo sobre o jogo do bicho.
Neguinho da Beija-flor grava sambas que marcaram sua carreira
Cristina Boeckel/ g1
Missão cumprida
Neguinho afirma que encerra seu ciclo na Sapucaí com a sensação de dever cumprido.
“Eu creio que eu estou deixando um aprendizado para quem está chegando. Eu sonhava em ser amigo dos que já estavam: Aroldo Melodia, Ney Viana, a Elza Soares, que foi a primeira intérprete da Mocidade; Jamelão, Martinho da Vila. Creio que muitos com a idade que eu tinha, uns 20, 22 anos, queiram ser um Neguinho, um Belo, um Xande de Pilares. Nesses 50 anos a gente deixa isso aí para quem está chegando agora”, destaca.
Segundo ele, os 75 anos pesaram na decisão de definir um último carnaval como a voz da Beija-Flor.
“Eu cheguei à conclusão de que a idade chegou, a idade chega para todo mundo. O tempo não para, como diz o grande mestre Cazuza. Não parou para mim. É cansativa a função do intérprete do carnaval, muito mais que fazer 3 horas, 4 horas de show.”
O cantor destaca que a função é mais pesada do que muitos imaginam.
“Eu costumo comparar o intérprete de samba de enredo com um maratonista. Nem todos nascem com esse dom. Temos vários cantores extraordinários, maravilhosos que tentaram cantar um samba na avenida e não conseguiram. Isso é um privilégio de poucos. Não querendo valorizar o que a gente faz, mas você tem que ter este dom. Cantar uma hora e meia na marques de Sapucaí sem intervalo é difícil. Não é qualquer um.”
Origem
Luiz Antônio Feliciano nasceu filho de músico que sonhava que ele tocasse trompete, Benedicto Feliciano Marcondes, o Bené do Pistão, morto em 2007. Não aprendeu o instrumento, mas transformou a voz em sua principal ferramenta.
Neguinho da Beija-flor em um dos desfiles da Beija-flor em Copacabana
Eduardo Holanda/Divulgação/Beija-flor de Nilópolis
Inicialmente conhecido como Neguinho da Vala, como uma lembrança da origem humilde em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, foi definitivamente rebatizado ao começar a cantar na Beija-Flor.
“Eu fui Neguinho da Vala dos 6 aos 25. Quando eu passei a fazer parte da Beija-Flor, é que saiu o da Vala e virou da Beija-Flor. Sugestão do Anísio [Abraão David, bicheiro e presidente de honra da escola] ‘Vamos tirar o da Vala, que é muito feio, eu não gosto, e vamos colocar o da Beija-Flor. Tá bom?’ E eu mudei"
O nome com o qual é conhecido de norte a sul do país é mais famoso do que o nome com o qual foi inicialmente registrado. Assim, o jeito foi levar o apelido para o cartório e ele se tornar oficialmente Luiz Antônio Feliciano Neguinho da Beija-Flor Marcondes.
“Até em casa, bem poucas pessoas me chamam pelo nome. Nem a minha esposa. Ela, no caso, nem de Luiz e nem de Neguinho, mas de marido. Só existiam duas pessoas que me chamavam de Luiz: minha falecida mãe e meu falecido pai. Porque o Neguinho existe desde 6 anos de idade."
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